segunda-feira, 8 de outubro de 2012

O consumo te consome





Há uma relação estreita entre a sobrecarga de trabalho, o consumo em excesso e o desequilíbrio emocional. Eu poderia até dizer que essas seriam três grandes marcas dos tempos pós-modernos, de forma que a rotina profissional estressante, o impulso consumista e as emoções desbalanceadas são partes de um ciclo em cadeia que se retroalimenta.
Somos cada vez mais exigidos em termos de produção, principalmente a produção profissional, que muitas vezes ultrapassa os limites aos quais deveria estar contida e, assim, começa a afetar a vida pessoal, as relações e até mesmo a família. Claro que a ansiedade, o estresse e o desequilíbrio emocional – que são hoje problemas comuns de milhões de pessoas – têm muitas vezes origem nessa ambiência social que impõe demandas cada vez mais agressivas de superação constante, que na maioria das vezes visa apenas ao lucro exorbitante do ideal de acumulação do capital. Ao mesmo tempo, como promessa de alívio de toda essa situação angustiante, nos é apresentado um estilo de vida baseado no consumismo e estimulado pelo acúmulo de coisas materiais.
Eu não sei se vocês percebem a conexão: a sobrecarga de trabalho pautada na intenção de ganhar mais dinheiro para poder consumir mais, mas que gera problemas de ordem emocional, os quais por sua vez tentamos solucionar através da promessa de felicidade que existe no consumo, o que acaba gerando dependência do excesso de trabalho.
Parece que o modelo do super profissional, do “workaholic” que produz como máquina e se entrega sem limites ao jogo de resultados, têm se difundido de maneira traiçoeira em nossa cultura nas últimas décadas. De maneira habilidosa, uma promessa muito influente nos tem sido apresentada de forma sutil, a de que uma carreira profissional extremamente bem sucedida é, sem dúvida, o aspecto mais importante em nossas vidas. Por “bem sucedida” entenda-se uma trajetória onde se acumula a maior quantidade de dinheiro e de coisas materiais, e também a quantidade de influência pessoal. Entenda-se a obsessão por lucro e fama. Nesta perspectiva deformada da realidade, o termômetro que mede sua ascensão chama-se consumo. Qual a marca do seu carro? Da sua roupa? Quanto? Quanto? Essa obsessão por quantidade é o que aliena. A alienação chega ao ponto de se valorizar e discutir mais os “direitos do consumidor” do que os direitos humanos, tendo em vista que em poucas décadas o código do consumidor recebeu mais atenção para ser alterado e aperfeiçoado do que os ideais humanitários receberam em toda sua história de existência. Óbvio que a grande estratégia de alimentação do mercado consumidor gira em torno da formação de grandes consumidores em potencial.

by: Bianca Ortega

Nenhum comentário:

Postar um comentário